Filhos que não Amadurecem

Gosto de fazer uma analogia pra explicar o papel dos pais na criação dos filhos. Comparo os pais a vasos e os filhos a árvores. Se você plantar a semente de uma árvore diretamente no solo, existe um sério risco de aquela semente não atingir a plenitude de seu potencial, que é se tornar uma árvore grande e frondosa.

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Como assim?

Ao iniciar o seu desenvolvimento, ainda na condição de pequenina mudinha, formigas podem cortá-la, pessoas podem pisá-la e a enxurrada da chuva pode arrancá-la do solo sem piedade.

Por isso, para aumentar sua chance de sobrevivência, ela precisa ser plantada em um vaso. Dessa forma, ela poderá crescer protegida de todas essas ameaças, ser regada, adubada, colocada ao sol, longe dos perigos do solo selvagem.

Tomemos como exemplo uma planta da espécie sequoia. A sequoia é uma árvore que pode atingir até oitenta metros de altura. Isso equivale mais ou menos a um prédio de trinta andares!

Toda essa grandiosidade começa na mudinha frágil de apenas alguns centímetros.

Mas, centímetro a centímetro, vamos imaginar que a nossa árvore já alcançou três metros de altura. Algumas formigas e a pisadela dos homens já não representam mais ameaças à sua vida. É hora de transferi-la para o solo permitindo a continuidade do seu crescimento.

Se isso não acontece, elas não crescem, suas raízes não têm pra onde expandir e seu desenvolvimento é inibido. Criamos uma espécie de bonsai. Bonsais são plantas nanicas, que poderiam atingir vários metros de altura, mas que não passam de alguns centímetros, exatamente porque são cultivadas em pequenos vasos, sem possibilidade de expansão das raízes. Quanto menor o vaso, menor o tamanho da planta…

Vamos compreender a representação da analogia.

A casa dos pais, com toda a sua segurança e cuidados, representa o vaso. Os filhos simbolizam a árvore.

O vaso é extremamente benéfico e necessário até certo ponto do desenvolvimento, após um determinado período ele pode deixar de ser positivo e tornar-se prejudicial.

Muitos pais não incentivam seus filhos a saírem de casa para o mundo, serem independentes e responsáveis, com medo do que lhes pode acontecer, e fazem de tudo para que eles permaneçam debaixo de suas asas, pelo máximo de tempo que eles puderem manter, acreditando que isso é para o seu bem, para sua proteção.

Mas esse é o paradoxo do vaso, ao mesmo tempo que ele protege, ele inibe o desenvolvimento.

Os filhos que não são transferidos para o solo da Natureza, ou seja, que não saem de casa para encarar os desafios do mundo, em geral, ficam prejudicados no seu desenvolvimento, apresentando comportamentos de imaturidade e insegurança.

Lembro-me de uma situação muito curiosa que vivi há precisamente quinze anos. Saí de casa com dezesseis anos de idade, comecei a trabalhar de carteira assinada com vinte três e comprei meu primeiro apartamento com vinte cinco.

Ao adquirir esse imóvel resolvi reformá-lo por completo. O que me deu muito trabalho e dor de cabeça.

Um dia, cheguei no hospital psiquiátrico onde trabalhava e desabafei com um colega acerca da situação. Ele tinha a minha idade. Comentei sobre o trabalho que estava tendo com os pedreiros e com a reforma em geral e ele não acreditou. “Você mesmo está reformando seu apartamento? Escolhendo as cerâmicas e comprando os materiais?”. “Sim, sou eu. Por quê?”, questionei. E ele soltou um “Que legal!” entusiasmado. Compreendi que, para ele, aquilo era muito maduro da minha parte.

Por que ele pensava assim? Bem, ele morava com os pais…

Na minha casa somos três irmãos. O mais velho e o do meio saíram de casa com dezoito anos e eu, como disse anteriormente, com dezesseis.

Certa vez, fui visitar meus pais em minha terra natal e, andando com minha mãe no centro da cidade, ela foi abordada por uma amiga e ali começou um diálogo que ficou registrado na minha memória.

“Graça, Graça! Todos os seus filhos já saíram de casa! Como você aguenta?”

Ao que minha mãe respondeu de uma forma muito interessante:

“O amor separa as pessoas. O que une é o ódio”.

Ela quis dizer com isso que o amor liberta, não prende, concede às pessoas a oportunidade de serem elas mesmas e fazerem o que quiserem. O ódio une no sentido de prisão. Uma pessoa odiosa não para de pensar no seu inimigo, acorrentando-se dessa forma àquele que tanto detesta.

Mas o que ficou ecoando na acústica da minha memória foi a primeira sentença, “o amor separa as pessoas”.

Ao longo da minha vida trabalhando como psicólogo tenho visto tantos e tantos pais que não suportam essa “separação”. Prendem-se aos filhos num relacionamento carregado de medo, ansiedade, dependência emocional e exigências de toda a sorte.

Muitos não vão gostar do que vou dizer agora, mas tenho visto que, aqueles filhos que conseguem sair de casa, muitas vezes visitam os pais com frequência movidos mais pela culpa do que pelo amor. É tanta cobrança, é tanta ameaça e manipulação emocional por parte dos pais que, ai do filho que não for visita-los toda semana.

Gosto da ideia de os filhos saírem de casa literalmente, para lançaram-se nas experiências do mundo construindo suas próprias identidades e aprendizados.

Mas podemos compreender o “sair de casa” simbólico, ou seja, não necessariamente a saída física, mas um sair psicológico. Isso significa continuar morando com os pais, mas com um alto grau de independência emocional e comportamental. Ser capaz de tomar suas próprias decisões e fazer as próprias escolhas. É possível conciliar as duas situações? Sim, mas com um grau maior de dificuldade se comparado com a saída física, literal.

Convivendo diariamente com os filhos adultos os pais tendem a interferir para lá da órbita do direito que lhes é devido. Com isso, os filhos se tornam pessoas inseguras e inaptas, porque não se acostumam com o exercício de sustentar as próprias decisões, de serem responsáveis pelos erros e acertos, tendo sempre que recorrer à aprovação dos genitores no momento de decidirem sobre as mais comezinhas questões da vida.

É preciso muito amor para deixar um filho ir. Infelizmente, a nossa caminhada na compreensão e vivência real desse sentimento é longa, e mal começamos. Quase sempre, o que é interpretado como amor, não passa de apego. As próprias necessidades, carências e exigências egoísticas são colocadas acima do bem-estar do próprio filho, da sua necessidade de independência e liberdade.

Muitos pais, ao lerem este texto, pensarão consigo mesmos: “Isso não se aplica a mim… Meu filho mora comigo, mas eu não o impeço de ir. Eu o amo intensamente e só quero o seu bem, por isso que eu lavo suas roupas, arrumo sua cama, dou dinheiro quando ele precisa, empresto o carro e ponho gasolina. É amor!”. Sim, amor e também uma forma muito inteligente de aprisioná-lo sem correntes… Apenas cortando-lhe as asas… Como ele desejará sair para o mundo buscando viver as experiências exigentes e desafiadoras da vida se é incapaz de fritar um ovo?

Deixar os filhos dependentes desses cuidados é uma estratégia largamente utilizada pelos pais que, muito sutilmente, garantem a sua permanência no ambiente doméstico. O preço? Filhos imaturos, inseguros, ansiosos e incapazes de tomarem as próprias decisões.

Poderíamos viver numa sociedade à semelhança da floresta amazônica, cheia de árvores majestosas e frondosas, com grande variedade de força e beleza, mas, infelizmente, no círculo em que transitamos, parece que estamos andando em meio a simples loja de bonsais.

 

Fonte: https://institutohayslamnicacio.com.br/blog/

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